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Fonte: Energy Capital & Power |

Angola: O Destino de Escolha dos Investidores

Angola tem planos muito ambiciosos para fazer das energias renováveis um sector cada vez mais competitivo para o investimento

Recebemos delegados de mais de 44 países e 92 oradores dos sectores público e privado envolvidos em vários painéis cobrindo todos os sectores da cadeia valor energético de Angola

LUANDA, Angola, 22 de março 2023/APO Group/ --

Luanda acolheu, de 29 de Novembro a 1 de Dezembro passado, a 3.ª edição do Angola Oil & Gas (AOG2022), que juntou mais de 1000 delegados nacionais e internacionais e colocou Angola no mapa energético mundial durante três dias. Miguel Artacho, International Conference Director of Angola Oil and Gas (https://apo-opa.info/3yWXf9D) 2022 faz um balanço muito positivo do evento, que tem a tutela do ministro dos Recursos Minerais, Petróleo e Gás, Câmara Africana de Energia e AIDAC, e foi aberto pelo Presidente da República, João Lourenço.

O sector do oil & gas angolano tem vindo a assumir-se cada vez mais como inovador no continente, garante o gestor, que não poupa elogios aos esforços que têm sido feitos para o desenvolvimento de fontes de energia renovável, com um relevante contributo da própria Sonangol.

Como tem evoluído a sustentabilidade ambiental no sector do petróleo e gás em Angola?

O Ministério dos Recursos Minerais, Petróleo e Gás (MIREMPET), a Agência Nacional de Petróleo, Gás e Biocombustíveis (ANPG), a Sonangol e as petrolíferas internacionais que operam no país estão activamente envolvidos numa série de projectos para preservar o ambiente, de que é exemplo a plantação de mangais em zonas pantanosas e de florestas ao longo da costa, para capturar emissões de CO2 e proteger a linha costeira da subida do nível das águas do mar. As autoridades estão totalmente empenhadas em reduzir ainda mais as emissões até 2030 e em diversificar o cabaz energético, para incorporar uma maior percentagem de fontes de energia renováveis.

Quais os desafios para o desenvolvimento destas fontes renováveis?

Antes de mais o financiamento, mas o potencial é imenso. A estratégia nacional para o sector visa mobilizar recursos para a exploração e produção contínua de petróleo e gás, respeitando o ambiente e promovendo uma transição energética responsável, através da introdução de fontes de produção de energia verdes na matriz energética. Angola tem planos muito ambiciosos para fazer das energias renováveis um sector cada vez mais competitivo para o investimento. A Sonangol está focada em alargar e consolidar a sua carteira de projectos de hidrogénio verde e outras fontes de energia renováveis, incluindo centrais fotovoltaicas.

O que há a destacar desta 3.ª edição da AOG, face às anteriores?

Foi ainda mais bem-sucedida! A evolução globalmente favorável da pandemia em Angola permitiu-nos retomar o evento em formato presencial – recebemos mais de 1.100 delegados nos três dias. Com um mercado energético estável e a servir de base para a industrialização, criação de emprego e estabilidade económica, as recentes reformas regulamentares e estruturais implementadas em Angola tornaram o país num destino de escolha tanto para os promotores de projectos como para os investidores, e a AOG 2022 trouxe um forte argumento a favor do investimento, quer em 2022, quer nos anos seguintes.

O evento excedeu as expectativas?

Sim. Arrancou com uma intervenção do Presidente João Lourenço e contou com outras, como a de Diamantino Azevedo, ministro dos Recursos Minerais, Petróleo e Gás, ou do secretário-geral da OPEP, Haitham Al Ghais.

Recebemos delegados de mais de 44 países e 92 oradores dos sectores público e privado envolvidos em vários painéis cobrindo todos os sectores da cadeia de valor energético de Angola.

Como nasceu a ideia da AOG?

Angola é, desde há décadas, um dos maiores produtores de petróleo e gás da África subsariana. Apesar de o país possuir elevadas reservas, a produção em vários campos está madura ou em declínio, e a única forma de inverter esta tendência e de manter a produção acima da meta de um milhão de barris por dia (bpd) é atrair novos investimentos e impulsionar a exploração. AAOG é uma “montra” desta indústria altamente estratégica e uma plataforma de atracção de novos investimentos.

Estas conferências contribuem para o desenvolvimento do sector em Angola?

A Energy Capital & Power (EC&P) organiza conferências em toda a África subsariana, e no decorrer de 20212022 foram assinados contratos para a realização de negócios superiores a 2,5 mil milhões USD. As nossas conferências constituem o fórum ideal para que todos os interessados no sector do petróleo e gás de Angola se reúnam e trabalhem em rede com parceiros internacionais, líderes da indústria e investidores globais. AAOG ajuda os agentes do mercado angolano a criar maior valor no âmbito da transição energética, promovendo conteúdos locais e o desenvolvimento de competências. Além disso, e porque há muitas indústrias em Angola indirectamente ligadas ao sector energético, da banca aos seguros, telecoms, serviços, entre outras, as principais empresas do país também participam na conferência, criando assim oportunidades para novos negócios e sinergias para além da indústria petrolífera e do gás.

Como avalia a evolução do sector petrolífero em Angola?

Está a evoluir bem, graças aos grandes investimentos feitos nos últimos anos pelas ‘majors’ internacionais, como a TotalEnergies, Chevron, ExxonMobil, BP, Eni, Equinor, e pela Sonangol. Estes investimentos são uma clara indicação de que os operadores estão fortemente empenhados em Angola a longo prazo. Ao investir em ambiciosas campanhas de exploração, o país e os seus parceiros estão a trabalhar para inverter o declínio da produção, a fim de localizar novas descobertas. Apesar deste declínio verificado ao longo da última década, novos investimentos e descobertas, juntamente com o leilão de mais de 50 blocos na plataforma continental, deverão impulsionar a produção até 2025. Em termos de gás natural associado, Angola produz actualmente 2,99 milhões de pés cúbicos por dia e tem reservas recuperáveis estimadas em mais de 27 triliões de pés cúbicos.

O lema desta edição foi “Promover uma Indústria de Petróleo e Gás Inclusiva, Atractiva e Inovadora em Angola”. O sector angolano é inovador?

Angola tem um dos maiores e mais bem estabelecidos sectores de petróleo e gás do continente, e a inovação tecnológica está presente em todo o sector, particularmente quando se trata do ‘offshore’ e do ‘offshore’ ultraprofundo, uma vez que estes projectos requerem tecnologia de ponta e despesas de capital significativas para perfuração e plataformas.

Angola está também a investir fortemente na diversificação do seu cabaz energético, para incorporar uma maior quota de renováveis. Por exemplo, a Sonangol, recordo, está envolvida numa série de parcerias para projectos fotovoltaicos, produção de hidrogénio verde e tecnologia de captura de carbono para reduzir as emissões de CO2.

Angola tem mantido elevados investimentos no sector energético, apesar dos anos difíceis da pandemia de COVID-19, e esta é uma das razões pelas quais a produção petrolífera no país não foi tão afectada como na Nigéria, que entre 2020 e 2022 não investiu o suficiente na manutenção e em infra-estruturas, para ser capaz de aumentar significativamente a produção no pós-COVID-19, com a subida da procura global de hidrocarbonetos.

Por fim, Angola beneficia de uma inegável estabilidade política, paz e segurança, ao contrário de outros produtores subsaarianos, que assistiram à saída ou retracção de investidores por motivos de segurança ou invocando força maior.

O conteúdo local é um tema muito importante. Em que ponto está Angola?

A promoção de conteúdos locais tem vindo a produzir resultados positivos no apoio à diversificação económica e industrialização mais rápida de Angola, catalisando o crescimento de outros sectores directa e indirectamente ligados à indústria do petróleo e gás, incluindo a construção, transportes, tecnologia, agricultura, logística, navegação e serviços marítimos.

Quais são os motores da inovação da indústria em Angola?

Um dos motores cruciais da inovação deriva da contínua promoção da transferência de tecnologia e conteúdos locais no sector da energia. Angola tem feito isto com particular sucesso, havendo algumas empresas que já têm mais de 85-90% de conteúdo local. Proporcionar oportunidades aos cidadãos angolanos de prosseguirem carreiras no sector energético é essencial, porque promove o dinamismo global da indústria e apoia uma maior inovação. Além disso, há um número crescente de empresas privadas angolanas com planos ambiciosos de crescimento a longo prazo. A Sonangol está também a seguir os passos dos líderes mundiais do sector, transformando-se progressivamente numa empresa de energia totalmente integrada, mais do que uma petrolífera.

Por fim, no ‘offshore’, ‘offshore’ profundo e ultra-profundo, a tecnologia utilizada por empresas como a TotalEnergies, ExxonMobil, BP ou Azule Energy é essencial – e tem sido utilizada para perfurar em Angola alguns dos poços mais profundos do mundo.

A inovação e a atractividade são os maiores desafios do sector em Angola?

A indústria do petróleo e do gás de Angola é simultaneamente inovadora e atractiva para os investidores. O maior desafio é continuar a atrair elevados níveis de investimento, para que se mantenha um programa de exploração intensivo, que possa contrariar ou compensar o declínio natural de alguns campos mais maduros. A questão do financiamento não afecta apenas Angola, mas toda a África subsaariana, sendo crucial que os países possam desenvolver todos os seus recursos energéticos – hidrocarbonetos, energia hídrica, eólica, fotovoltaica e hidrogénio. É necessário reforçar as ligações de investimento entre a Europa, os EUA, os países do Médio Oriente e investidores internacionais de origem asiática, para ajudar a financiar projectos energéticos em Angola e no resto do continente.

Em 2023 estará a AOG de volta?

Estará, certamente, e o objectivo é que a conferência cresça ainda mais em número de delegados e expositores. É provável que o debate gire em torno da consolidação dos recentes ganhos e do papel crucial de Angola como fonte fiável de fornecimento de energia aos mercados globais – algo particularmente importante, devido ao contexto geopolítico (invasão da Ucrânia pela Rússia). Esta crise energética traz uma excelente oportunidade aos maiores produtores de petróleo e gás da África subsariana, como Angola, de continuarem a expandir as suas exportações de GNL e de petróleo bruto.

Quais as tendências da indústria do petróleo e do gás em Angola?

A tendência é que as companhias internacionais e a Sonangol continuem a explorar novas reservas de petróleo e gás. Há muitos projectos interessantes em curso. Por exemplo, em Julho passado, a TotalEnergies anunciou a decisão final de investimento de 3 mil milhões USD no campo Begonia, em projectos de exploração petrolífera.

Composto por cinco poços ligados ao FPSO Pazflor, este campo deverá acrescentar 30.000 bpd à produção actual.

João Lourenço garante foco na descarbonização

O Presidente João Lourenço fez o discurso de arranque da 3.ª edição do AOG2022, onde revelou estar em preparação um Plano Director para o gás natural, com um horizonte de longo prazo. Mas o tema da transição energética não foi esquecido pelo Chefe de Estado, que deu nota dos passos que têm sido dados para o desenvolvimento de uma economia cada vez mais sustentável, onde as petrolíferas, incluindo a Sonangol, têm uma palavra a dizer.

No seu discurso, JLo defendeu que o sector petrolífero deve promover uma gestão sustentável dos combustíveis fósseis e lembrou que o Executivo tem também estado engajado na construção de centrais fotovoltaicas, através da Sonangol, com base em parcerias com empresas internacionais como a Eni e a Total, e empresas alemãs, para desenvolver projetos de produção de hidrogénio verde “que vão contribuir para sustentabilidade do seu portefólio de negócios”.

“Angola está aberta ao investimento privado”, reiterou o Presidente, que anunciou que Angola está a ultimar um Plano Director para o gás natural, com um horizonte a 30 anos, de modo a garantir a criação de empregos e geração de receitas para o Estado”. O Chefe de Estado apelou aos investidores que olhem para as oportunidades de negócio e garantiu que o Governo tem trabalhado “incansavelmente” para estabelecer um ambiente regulatório propício, tendo redefinido o modelo de governação do sector e os papéis das diferentes entidades, apostando em maior transparência e competitividade no sector, tornando-o mais atractivo para a captação de investimentos nacionais e estrangeiros.

Ministro dos Petróleos destaca parcerias para transição energética

No encerramento dos trabalhos, o ministro dos Recursos Minerais, Petróleo e Gás reiterou a aposta do Estado angolano em acelerar a transição energética, com a expansão de projectos de energia solar, bioquímica, eólica, de biocombustíveis e hidrogénio verde, que ao mesmo tempo podem contribuir para o crescimento e desenvolvimento económico do país.

Diamantino Azevedo avançou que o Executivo está também a trabalhar na procura de minerais importantes para a transição energética, como terras raras e lítio, sendo que, neste caso, já se está em fase de prospecção, e o país possui uma série de projectos de cobre e outros minerais primários que são fundamentais para a transição energética. “Estamos empenhados na construção de refinarias de petroquímica, fábricas de fertilizantes, exploração de recursos minerais como fosfato e sua transformação. Se o Executivo conseguir concretizar estes projectos, faremos a diferença no que diz respeito à diversificação económica, para o melhoramento da qualidade de vida e do bem-estar social do povo angolano”, disse, lembrando que o Executivo está disposto a trabalhar com todos os parceiros que decidiram investir em Angola e os que pretendem desenvolver as acções no sector petrolífero, para que os projectos ligados à transição energética sejam concretizados.

Que oportunidades estão disponíveis para o investimento estrangeiro?

As oportunidades são tão grandes quanto o país é vasto. Angola tem um bom historial de utilização de receitas provenientes de projectos de petróleo e gás natural no financiamento de sectores estratégicos da economia, desenvolvendo infra-estruturas, a agricultura, educação e cuidados de saúde. Mas os investidores não vêm a Angola por altruísmo: fazem-no porque os retornos são elevados em todos os sectores e não apenas no do petróleo e gás. O país deverá ter um crescimento real do PIB acima de 5% entre 2023-2025, à medida que a recuperação económica pós-COVID se robustecer. E o Governo do Presidente João Lourenço tem vindo a trabalhar para melhorar o ambiente de investimento e de negócios.

Que papel pode a tecnologia desempenhar para reduzir custos neste sector?

A tecnologia é essencial em todos os aspectos da cadeia de valor energético, e quer a Sonangol, quer as companhias internacionais que operam em Angola utilizam tecnologia de ponta em todas as suas operações para reduzir custos, racionalizar a eficiência operacional e maximizar os benefícios para os accionistas. Há empresas locais, como a Integrated Solutions, que emergiram como fornecedores de soluções e serviços de TI, fornecendo manutenção e apoio a sistemas tecnológicos complexos. Outras empresas 100% angolanas, como a Anglobal e a SOAPRO, têm-se destacado na prestação de serviços de engenharia, construção civil e apoio técnico ao sector do petróleo e gás, estando também a expandir-se para novas áreas de negócio, como as infra-estruturas e as energias renováveis.

Como é que Angola está a abordar a necessidade de formação e desenvolvimento de mão-de-obra qualificada neste sector?

Angola fez da formação e desenvolvimento da mão-de-obra local uma pedra angular do seu programa de desenvolvimento económico a longo prazo. As empresas que operam no sector da energia devem celebrar acordos-quadro com o Ministério, estabelecendo procedimentos relativos ao recrutamento, integração, formação e desenvolvimento da mão-de-obra, bem como um Plano de Desenvolvimento de Recursos Humanos. Estes planos também contêm obrigações no que diz respeito à integração e promoção do pessoal angolano e à substituição de expatriados, no quadro de um processo de “angolanização” calendarizado.

Distribuído pelo Grupo APO para Energy Capital & Power.